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segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Tempo de outrora

Roberto de Queiroz

 

José capinava a roça com os filhos.

A roça era verde debaixo do céu;

o céu era verde em cima da roça;

a água era translúcida debaixo das pontes;

as flores eram amarelas, vermelhas, azuis;

todo o mundo, tudo era sereno em torno de José.

José podia andar livremente: havia liberdade.

A vida desabrochava: não havia o que temer.

Ou melhor, as únicas coisas que José temia

eram os gafanhotos, as lagartas, as saúvas.

José tinha medo da praga;

capinava a roça com os filhos;

esperava ansioso uma nova colheita;

nem sempre podia usar roupa nova;

porém vivia a vida com dignidade.

Havia dessas coisas naquele tempo.

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