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sábado, 27 de agosto de 2011

Além da imaginação

Roberto de Queiroz

Vivemos em um mundo
onde não há política:
vivemos em um mundo
onde não há corrupção.

Vivemos em um mundo
onde não há exclusão:
vivemos em um mundo
onde não há indigentes.

Vivemos em um mundo
onde não há tráfico:
vivemos em um mundo
onde não há violência.

Vivemos em um mundo
onde não há guerras:
vivemos em um mundo
onde não há ambição.

Vivemos em um mundo
onde não há mundo:
vivemos em um mundo
onde não nada disso é real.

(Em A nudez de escrever, Curitiba, PR, Editora Protexto, 2011, p. 21)

domingo, 17 de julho de 2011

Mãe

Roberto de Queiroz

Mãe não é o anoitecer, e sim
o amanhecer de cada novo dia.

Não é a acidez dos sargaços
marinhos, e sim o doce mel

que a pequena abelha sorve
do néctar de uma flor.

Não é o lenço que enxuga nossas
lagrimas, mas a lágrima companheira

que nos acolhe e nos acalenta
quando sentimos a dor...

Mãe é fonte
de plena consciência humana
e fonte do mais profundo amor...

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A imagem refletida

Roberto de Queiroz

Não posso esquecê-la.
Meu coração a deseja
e, para tentar aproximá-la,
meu olhar a busca...
Meu desejo recorre ao infinito
para retratar sua imagem.
Não posso esquecê-la.
Não posso esquecer-me de seus beijos.
O vento vai buscar sua boca
para tocar meus lábios.
Sua voz está no vento
sempre a tocar meus ouvidos.
Não posso esquecê-la.
Sua imagem está sempre
a refletir-se em meus pensamentos
e meu coração não se compraza
em havê-la perdido.
Não posso esquecê-la.
Pois é tão grande o meu amor
e tão pequeno o esquecimento.
Minha alma não se compraza
em havê-la perdido
e eu quero tê-la entre meus braços...


(
Em A nudez de escrever, Curitiba, PR, Editora Protexto, 2011, p. 17)

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Faces insignes do Nordeste

Roberto de Queiroz

Vou, pois, retratar agora,
qual nordestino que sou,
meu Pernambuco de amor:
terra minha e de Bandeira,
também de João Cabral
Valença (São Bento do Una),
"Ariano Suassuna" e
João Fernandes Vieira.

Seu mar é um pleno Recife
e seu céu minha Ipojuca,
seu mundo impressão que fica
e seu jardim uma flor:
qual sabor minha Camela,
canção de Nando Cordel,
coisa doce que nem mel,
qual vida um hino de amor.

Quantos heróis nós tivemos
guerreando em prol da vida,
da nossa terra querida;
homens desses não há mais:
qual Amador de Araújo, que
nos mostrou gestos guerreiros,
passando meses inteiros
buscando seus ideais.

Naquele tempo de outrora,
livre, o filho do sertão,
Gonzaga, o rei do baião,
viveu tacando e a cantar:
portando a sua sanfona,
como ilustre brasileiro,
viajou o país inteiro,
levando a vida a tocar.

Iminente ao tempo de ora,
mestre Francisco Brennand,
quer seja noite ou manhã,
rege com arte o plasmar:
amores, sonhos e moldes,
notáveis frases primeiras,
sublimes ditas fagueiras
do mestre do modelar.

Homens, pátria una, vidas
com mentes tão divergentes,
em épocas não inerentes,
há aqui neste pautar:
qual em Porto de Galinhas...
(sob a bela lua cheia)
o povo a brigar na areia
e a lua a beijar o mar...

(Em Poetas da Famasul, Recife, PE, Edições Bagaço, 2004, p. 64-65)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

No meio do caminho

Roberto de Queiroz

No meio do caminho há muito cansaço,
há muito cansaço no meio do caminho,
há muito cansaço,
no meio do caminho há muito cansaço.

No meio do caminho há um abrigo,
há um abrigo no meio do caminho,
há um abrigo,
no meio do caminho há um abrigo.

sábado, 11 de junho de 2011

O sexo das letras

Roberto de Queiroz


Acasalam-se as letras
em formação vocabular,
amamentando-se em tetas
e recomeçando a acasalar.
Letras juntam-se a letras
para uma babel vocalizar;
letras tortas e não-tortas,
tendendo-se a entortar.
Vogais, adúlteras letras,
traem suas consoantes
nesse rude lapidar,
em diferentes syllables fortes,
pretensão não-invulgar.
Coisa louca, coisa perfeita,
gesto maior, palavra feita,
letra engolindo letra,
coisa medonha refeita;
paroxítono, o vocábulo eita?

(Poema publicado no jornal O Nheçuano, Roque Gonzales, RS, abril/maio 2011, Poesia, p.10)

sábado, 4 de junho de 2011

Silly

Roberto de Queiroz

o concret...........Y
o concreti..........L
o concretis.........L
o concretism......I
o concretismo é S

Kipling se etc

Roberto de Queiroz

Se mais a cópia,
se mais a foto,
se mais o imitar,
se mais o plágio,
se mais o retrato,
se mais a xerox,
se mais a ironia.
Serás original,
meu filho?


* A José Paulo Paes, em alusão ao poema Kiplin revisitado.

Pleasure

Roberto de Queiroz

Eu gosto de teus olhos,
esses olhos assim raros,
quase de neônio.

Eu gosto de tua boca,
essa boca assim meiga,
quase de açúcar.

Eu gosto de tua voz,
essa voz assim discreta,
quase de mansinho.

Eu gosto de tua pele,
essa pele assim macia,
quase de pelúcia.

Eu gosto de teu cheiro,
esse cheiro assim suave,
quase de bebê.

Eu gosto de teu corpo,
esse corpo assim edible,
quase de néctar.


(Poema publicado na Folha de Pernambuco, 05/01/2011, Programa, p. 3)