Roberto de Queiroz
Seria a mesma a afeição
de beijar e de abraçar?
Existe afeição sem beijo,
sem abraço, não sem olhar,
e é possível ter mais afei-
ção no olhar que no beijar
(se houver afeição no beijo),
eia, uma vez que o olhar
evita arrostar os olhos
da afeição do oposto olhar.
É olhar nos olhos de outrem
sair de si mesmo, e quem sai
expõe ao extremo a alma,
numa exposição una e
diáfana ao oposto olhar,
em que há coisa boa e
autêntica: a afeição dos olhos,
que muito espetacula e
transparece o curar da alma
do olhar que vem ou que vai.
É isso, a afeição do olhar
impetra algo curioso,
onde a esquiva dos olhos
é um sentir de amoroso,
e é bem certo que o não olhar
é um gesto mui carinhoso:
demonstra (quiçá timidez)
afeto, algo um tanto manhoso,
que não quer talvez se mostrar
e não dá a ver que é medroso.
Poema classificado em 1º lugar no III Concurso de Prosa e Poesia da
FAMASUL, Palmares, PE, 2003,
integrante da antologia Poesias brasileiras v. II: Prêmio Ebrahim
Ramadan de Poesias (São José do Rio Preto, SP,
Editora Rio-pretense, 2003, p. 64) e publicado na revista internacional
de arte literária The Moon Light of Corea, n. 66, p. 47, em 09/02/2013.
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