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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Faces insignes do Nordeste

Roberto de Queiroz

Vou, pois, retratar agora,
qual nordestino que sou,
meu Pernambuco de amor:
terra minha e de Bandeira,
também de João Cabral
Valença (São Bento do Una),
"Ariano Suassuna" e
João Fernandes Vieira.

Seu mar é um pleno Recife
e seu céu minha Ipojuca,
seu mundo impressão que fica
e seu jardim uma flor:
qual sabor minha Camela,
canção de Nando Cordel,
coisa doce que nem mel,
qual vida um hino de amor.

Quantos heróis nós tivemos
guerreando em prol da vida,
da nossa terra querida;
homens desses não há mais:
qual Amador de Araújo, que
nos mostrou gestos guerreiros,
passando meses inteiros
buscando seus ideais.

Naquele tempo de outrora,
livre, o filho do sertão,
Gonzaga, o rei do baião,
viveu tacando e a cantar:
portando a sua sanfona,
como ilustre brasileiro,
viajou o país inteiro,
levando a vida a tocar.

Iminente ao tempo de ora,
mestre Francisco Brennand,
quer seja noite ou manhã,
rege com arte o plasmar:
amores, sonhos e moldes,
notáveis frases primeiras,
sublimes ditas fagueiras
do mestre do modelar.

Homens, pátria una, vidas
com mentes tão divergentes,
em épocas não inerentes,
há aqui neste pautar:
qual em Porto de Galinhas...
(sob a bela lua cheia)
o povo a brigar na areia
e a lua a beijar o mar...

(Em Poetas da Famasul, Recife, PE, Edições Bagaço, 2004, p. 64-65)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

No meio do caminho

Roberto de Queiroz

No meio do caminho há muito cansaço,
há muito cansaço no meio do caminho,
há muito cansaço,
no meio do caminho há muito cansaço.

No meio do caminho há um abrigo,
há um abrigo no meio do caminho,
há um abrigo,
no meio do caminho há um abrigo.

sábado, 11 de junho de 2011

O sexo das letras

Roberto de Queiroz


Acasalam-se as letras
em formação vocabular,
amamentando-se em tetas
e recomeçando a acasalar.
Letras juntam-se a letras
para uma babel vocalizar;
letras tortas e não-tortas,
tendendo-se a entortar.
Vogais, adúlteras letras,
traem suas consoantes
nesse rude lapidar,
em diferentes syllables fortes,
pretensão não-invulgar.
Coisa louca, coisa perfeita,
gesto maior, palavra feita,
letra engolindo letra,
coisa medonha refeita;
paroxítono, o vocábulo eita?

(Poema publicado no jornal O Nheçuano, Roque Gonzales, RS, abril/maio 2011, Poesia, p.10)

sábado, 4 de junho de 2011

Silly

Roberto de Queiroz

o concret...........Y
o concreti..........L
o concretis.........L
o concretism......I
o concretismo é S

Kipling se etc

Roberto de Queiroz

Se mais a cópia,
se mais a foto,
se mais o imitar,
se mais o plágio,
se mais o retrato,
se mais a xerox,
se mais a ironia.
Serás original,
meu filho?


* A José Paulo Paes, em alusão ao poema Kiplin revisitado.

Pleasure

Roberto de Queiroz

Eu gosto de teus olhos,
esses olhos assim raros,
quase de neônio.

Eu gosto de tua boca,
essa boca assim meiga,
quase de açúcar.

Eu gosto de tua voz,
essa voz assim discreta,
quase de mansinho.

Eu gosto de tua pele,
essa pele assim macia,
quase de pelúcia.

Eu gosto de teu cheiro,
esse cheiro assim suave,
quase de bebê.

Eu gosto de teu corpo,
esse corpo assim edible,
quase de néctar.


(Poema publicado na Folha de Pernambuco, 05/01/2011, Programa, p. 3)