Roberto
de Queiroz
Diz um adágio popular
que beleza não põe mesa, e diz um adágio afrodisíaco que feiura não põe mesa. A
conclusão é esta: beleza não põe mesa, feiura também não. O que, na verdade,
põe a mesa é a cadência dos neurônios em sintonia com a cabeça, o tronco e os
membros do corpo. O pôr a mesa não é, então, tarefa de beleza ou de feiura. Mas
como seria, se a beleza e a feiura não são concretas? Ambas são meros
substantivos abstratos e, sozinhas, não têm existência própria: precisam apelar
para o adjetivo para existir. Essa derivação adjetivo-abstrata, por si só, não
é capaz de pôr a mesa. Enfim, o pôr mesa é ação da labuta inconclusa das mãos,
e a ação de pôr a mesa, depois de concluída, resulta em mesa posta.